quarta-feira, fevereiro 15, 2006

O CENTÉSIMO MACACO


Estamos engatinhando e sinto que é chegada a hora de explicitar a proposta inicial deste Blog, até para que mais pessoas dele participem, interajam e sintam-se parte daquilo que pretendemos fazer.

Ao invés de desenvolver textos que expliquem o nascimento da idéia, resolvi publicar o texto que fez parte da Edição Zero, da Revista Aldeia, nos idos de novembro de 1999....e era um desses projetos utópicos que ficam no meio do caminho.

A revista era impressa, falava de ecologia e qualidade de vida....era bem legal mas não durou mais do que 3 edições. Falta de grana e patrocínio. Mas não vamos falar de coisas tristes, não é mesmo ?

Voltemos ao texto....quem sabe isso não dê um tranco nesse Projeto ou mesmo na participação de nosso leitores. Aí vai....o texto é meu mesmo:

Há muito tempo li um livro com o curioso nome de “O Centésimo Macaco”, e quando sentei para escrever esse texto de encerramento de nossa primeira revista, número zero, ele imediatamente me veio à mente. Foi irresistível...sequer pude imaginar outra abordagem para essa página.

Pois bem! Comprei o tal livro no começo de 1991, intrigado com o título, e com o subtítulo de capa (O Despertar da Consciência Ecológica). Foi escrito por Ken Keyes Jr e lançado no Brasil pela Editora Pensamento. De cara uma surpresa: não tinha direitos autorais reservados, pois tanto o autor quanto a editora desejavam que seu conteúdo tivesse a máxima divulgação possível. Foi escrito no contexto de perigo iminente de guerras e desastres nucleares (1981).

Desde então tenho sido uma espécie de porta-voz do autor e do próprio conteúdo do livro. Apesar de estarmos vivendo outros tempos, é certo que ainda não estamos livres do perigo nuclear (basta ver navios transportando plutônio por nossos mares) e, por isso mesmo, seu conteúdo ainda é atual.

Mais do que o conteúdo, entretanto, está a constatação do autor, tão simples que pode ser resumida numa simples frase: estamos todos no mesmo barco e se não houver mais barco não estaremos mais! A prática da ação ecológica e, antes de tudo, prática de cooperação, e se não fizermos nossa parte ninguém o fará por nós.

Nossa revista propõe-se a fazer sua parte, falando de ecologia e de qualidade de vida. E se um número suficiente de pessoas se tornar consciente de algo, nossa esperança é de que essa consciência se estenda a todos, como no fenômeno do centésimo macaco, que passo a relatar:

O macaco japonês Macaca Fuscata vem sendo observado há muito tempo em estado natural. Em 1952, os cientistas jogaram batatas-doces cruas nas praias da ilha de Kochima para os macacos. Eles apreciaram o sabor das batatas-doces, mas acharam desagradável o da areia. Uma fêmea de um ano e meio, chamada Imo, descobriu que lavar as batatas num rio próximo resolvia o problema. E ensinou o truque à sua mãe. Seus companheiros também aprenderam a novidade e a ensinaram às respectivas mães. Aos olhos dos cientistas, essa inovação cultural foi gradualmente assimilada por vários macacos. Entre 1952 e 1958, todos os macacos jovens aprenderam a lavar a areia das batatas-doces para torná-las mais gostosas. Só os adultos que imitaram os filhos aprenderam esse avanço social. Outros adultos continuaram comendo batata-doce com areia.

Foi então que aconteceu uma coisa surpreendente. No outono de 1958, na ilha de Kochima, alguns macacos – não se sabe ao certo quantos – lavavam batatas-doces. Vamos supor que, um dia, ao nascer do sol, noventa e nove macacos da ilha de Kochima já tivessem aprendido a lavar as batatas. Vamos continuar supondo que, ainda nessa manhã, um centésimo macaco também tivesse feito uso dessa prática. ENTÃO ACONTECEU!

Nessa tarde, quase todo o bando já lavava as batatas-doces antes de comer. O acréscimo de energia desse centésimo macaco rompeu, de alguma forma, uma barreira ideológica! Mas veja só: os cientistas observaram uma coisa surpreendente: o hábito de lavar as batatas-doces havia atravessado o mar. Bandos de macacos de outras ilhas, além dos grupos do continente, em Takasakiyama, também começaram a lavar suas batatas-doces! Assim, quando um certo número crítico atinge a consciência, essa nova consciência pode ser comunicada de uma mente a outra
.’ (O Centésimo Macaco, Ken Keyes Jr., Editora Pensamento).

Algum dia, espero, atingiremos a massa crítica de consciência ecológica que irá detonar uma grande mudança de comportamento em nosso Planeta. Meu único temor é o de que isso aconteça tarde demais. Enquanto isso, o que temos a fazer é lavar nossas batatas..e não esquecer de contar para os outros porque estamos lavando.”

Era isso que eu queria dizer a todos nós....vamos em frente, fazendo Massa Crítica!

Daniel Bykoff, é co-responsável por esse Blog e lava suas batatas da areia antes de comê-las.